terça-feira, 21 de setembro de 2010

KEFALH H OUK ESTI KEFALH



0! (1)

A Tríade Anterior Primitiva A Qual É

NÃO-DEUS

Nada é.

Nada virá a ser.

Nada não é.

A Primeira Tríade A Qual é DEUS

EU SOU.

Eu pronuncio A Palavra.

Eu ouço A Palavra.

O Abismo

A Palavra é quebrada.

Há Conhecimento.

Conhecimento é Relação.

Estes fragmentos são Criação.

A quebra manifesta Luz. (2)

A Segunda Tríade A Qual é DEUS

DEUS, o Pai e Mãe, é ocultado em Geração.

DEUS é ocultado em rodopiante energia da Natureza.

DEUS é manifestado em concentração: harmonia:

consideração: o Espelho do Sol e do Coração.

A Terceira tríade

Paciência: preparar.

Agito: fluir: flamejar.

Estabilidade: gerar.

A Décima Emanação

O mundo.

COMENTÁRIO (O Capítulo que não é um Capítulo)

Este capítulo, de número 0, corresponde ao Negativo, o qual é anterior a Kether no sistema Cabalístico.

Os pontos de interrogação e exclamação nas páginas anteriores são os dois outros véus.

O significado destes dois símbolos é inteiramente explicado em The Soldier and The Hunchback (O Soldado e o Corcunda).

Este capítulo começa com a letra O, seguida por um ponto de exclamação; sua referência à teogonia de Liber Legis é explicada na observação, mas é também referente a KTEIS PHALLOS e SPERMA, e é a exclamação de assombro ou êxtase, a qual é a natureza ultimal das coisas.

OBS.: (1) Silêncio. Nuit, O; Hadit; Ra-Hoor-Khuit, 1.

COMENTÁRIO (A Tríade Anterior Primitiva)

Esta é a Trindade Negativa; suas três declarações são, em último sentido, idênticas. Elas harmonizam Ser, Vir-a-Ser, e Não-Ser, os três modos possíveis de se conceber o universo.

A expressão Nada é (tecnicamente equivalente a Algo é) é totalmente explicada no ensaio Berashit.

O resto do capítulo segue o sistema Sephirótico da Cabala e consiste numa espécie de comento quintessencial sobre tal sistema.

Aqueles que estão familiarizados com esse sistema reconhecerão Kether, Chokmah e Binah na Primeira Tríade; Daath, no Abismo; Chesed, Geburah e Tiphareth na Segunda Tríade; Netzach, Hod e Yesod na Terceira Tríade; e Malkuth na Décima Emanação.

O capítulo pode, então, ser considerado o mais completo tratado sobre a existência já escrito.

OBS.: (2) O Inteiro, absorvendo tudo, é chamado Escuridão.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Alquimia


Aqui vou procurar passar, de uma forma resumida, em que consistiu, e consiste, a autêntica alquimia. A maioria dos dicionários contribuiu para reforçar uma série de erros comuns, recusando-a, por considerá-la uma predecessora imatura, empírica e especulativa da química, com o único objetivo de transmutar os metais comuns em ouro. Embora seja certo que a química se desenvolveu à partir da alquimia, estas duas ciências não tem quase nada em comum.
Enquanto que a química se ocupa dos fenômenos cientificamente verificáveis, a misteriosa doutrina da alquimia se refere a uma realidade escondida de ordem supeior que conforma a essência que está na base de todas as verdades e religiões. A perfeição dessa essência é denominada Absoluto, pode ser percebida e compreendida como a maior Beleza de todas as Belezas, o maior Amor de todos os Amores e o mais Alto do Alto, só é necessário que a consciência se altere profundamente e passe do nível normal de percepção cotidiana (o chumbo) a um nível sutil e elevado de percepção (o ouro), de maneira que cada objeto se perceba com a forma arquetípica perfeita, contida dentro do Absoluto.
A percepção da perfeição eterna do todo em todos os lugares é o que constitui a Redenção Universal. A ciência da alquimia, sagrada, secreta, antiga e profunda, também denominada a Arte Real ou Sacerdotal e Filosofia Hermética, esconde atrás de textos metafóricos e emblemas
enigmáticos, os caminhos para penetrar nos segredos mais profundos da matéria e da natureza, da vida e da morte e da unidade, da eternidade e do infinito. Começarei, portanto, nos fixando no que era realmente os verdadeiros alquimistas pretendem conseguir.
A alquimia não é simplesmente uma arte ou ciência que ensine a transmutar metais em ouro, mas sim, uma ciência sólida e verdadeira que ensina a conhecer o centro de todas as coisas, o que na linguagem divina significa o Espírito da Vida. Ao longo da história, os verdadeiros alquimistas , que menosprezavam as riquezas e os elogios mundanos, tentaram encontrar a Medicina Universal, a Panacéia. Essa Panacéia que, ao ser totalmente sublimada, se converte na Fonte da Juventude, a chave da Imortalidade, tanto em um sentido espiritual, como misteriosamente físico. Não só curaria todas as doenças, mas também poderia fazer com que o corpo rejuvenescesse e se convertesse finalmente em um corpo de Luz incorruptível.
O Adepto, o que conseguiu o dom de Deus, receberia então, a tríplice coroa da Iluminação: Onisciência, Onipotência e Gozo do Amor de Divino. Mas muitos são os chamados e muito poucos os escolhidos, deve-se reconhecer que dentro desta minoria muitos poucos conseguiram alcançar o último objetivo. Os que assim o fizeram, constituem a Irmandade da Luz e estão vivos. Mas apesar de serem enormes as dificuldades que apresentam as doutrinas ocultas do Ocidente e do Oriente, são muito maiores as que se apresentam ao verdadeiro estudioso da alquimia.
Especialmente se o que se pretende é ir além das análises superficiais que periodicamente vieram realizando os historiadores, psicólogos e outros eruditos. Se bem é certo que o estudo da alquimia através dos textos pode se tornar verdadeiramente desalentador, igual que o desesperançado estudioso pode descobrir nas pinturas alquímicas um caminho, repleto de maravilhas, para penetrar no coração da matéria. É que os alquimistas, através de suas imagens,
expressaram de uma forma ingeniosa e muito bela, coisas que nunca chegaram a escrever. Esta linguagem pictórica, onde todos os detalhes possuem um significado específico, exerce uma profunda fascinação sobre o observador sensível.
Essa fascinação se produz sempre, independente de que as pinturas sejam compreendidas. Se o leitor contempla atentamente estas imagens, ou seja, se vai mais além da superfície, comprovará que muitas vezes correspondem a uma dimensão atemporal que se encontra em nosso interior
mais profundo.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O Segredo Terrível





Há verdades que devem ser para sempre misteriosas para os fracos de espírito e para os tolos.
E estas verdades podem ser-lhes ditas sem temor. Pois certamente jamais as compreenderão.

Que é um tolo? Um tolo é uma coisa mais absurda que uma besta. É o homem que quer chegar antes de ter andado.
É o homem que se julga senhor de tudo só porque chegou a alguma coisa.
É um matemático que despreza a poesia.
É um poeta que protesta contra os matemáticos.
É um pintor que diz que a teologia e a cabala são inépcias, porque nada entende de cabala e teologia.
É o ignorante que nega a ciência sem ter o trabalho de estudá-la.
É o homem que fala sem saber e afirma sem certeza. São os tolos que matam os homens de gênio.
Galileu foi condenado, não pela Igreja, mas por tolos que, infelizmente, pertenciam à Igreja.
A tolice é um animal feroz que tem a calma da inocência; assassina sem remorso.
O tolo é o urso da fábula de La Fontaine; esmaga a cabeça do seu amigo debaixo de uma pedra para caçar uma mosca; porém, diante da catástrofe, não procureis fazer-lhe confessar que errou. A tolice é inexorável e infalível como o inferno e a fatalidade, pois é sempre dirigida pelo magnetismo do mal.

O animal nunca é tolo enquanto age franca e naturalmente como animal, porém o homem ensina a tolice aos cães e aos burros sábios. O tolo é o animal que despreza o instinto e que aparenta inteligência.

O progresso existe para o animal; pode-se dominá-lo, prendê-lo, excitá-lo.
Porém, não existe para o tolo. Porque o tolo julga que nada tem a aprender. É ele que quer reger e educar aos outros e com ele nunca tereis razão. Ele vos escarnece à vista, dizendo que o que não compreende é radicalmente incompreensível. De fato, por que não o compreenderei eu? Ele vos dirá com admirável aprumo. E nada mais tendes a lhe responder. Dizer-lhe que é um tolo seria apenas fazer-lhe um insulto. Todos vêem, porém ele jamais o saberá.

Eis, pois, um já formidável arcano inacessível à maioria dos homens. Eis aí um segredo que jamais adivinharão e que seria inútil dizer-lhes: o segredo da tolice deles.

Sócrates bebe a cicuta, Aristides é proscrito, Jesus é crucificado, Aristófanes se ri de Sócrates e faz rirem os tolos de Atenas; um camponês se aborrece de ouvir dar a Aristides o nome de Justo e Renan escreve a vida de Jesus para o maior prazer dos tolos. É por causa do numero quase infinito dos tolos que a política é e será sempre a ciência da dissimulação e da mentira. Maquiavel ousou dizê-lo e foi ferido por uma reprovação bem legítima, pois, fingindo dar lições aos príncipes, ele traía a todos e os denunciava à desconfiança das multidões. Aqueles que somos obrigados a enganar não devemos prevenir.

É por causa das vis e tolas multidões que Jesus dizia aos seus discípulos: “Não lanceis pérolas aos porcos, pois eles as calcariam aos pés e se voltariam contra vós, procurando despedaçar-vos”.

Vós, portanto, que desejai tornar-vos poderosos em obras, nunca digais a alguém o vosso pensamento mais secreto. Nem mesmo o digais, e quase ousaria dizer-vos, escondei-o sobretudo à mulher a quem amais; lembrai-vos da história de Sansão e Dalila!

Desde que uma mulher julga conhecer a fundo seu marido, ela cessa de amá-lo. Quer governá-lo e dirigi-lo. Se resiste, ela o odeia; se cede, ela o despreza. Procura um outro homem para penetrar. A mulher tem sempre necessidade do desconhecido e do mistério e seu amor geralmente não é mais que uma insaciável curiosidade.

Porque são os confessores poderosos sobre a alma e quase sempre sobre o coração das mulheres? É que sabem todos os seus segredos, ao passo que as mulheres ignoram os dos confessores.

A franco-maçonaria é poderosa no mundo pelo seu terrível segredo tão prodigiosamente guardado, que os iniciados, mesmo os dos mais altos graus, não o sabem.

A religião católica se impõe às multidões por um segredo que o próprio papa não sabe. Este segredo é o dos mistérios. Os antigos gnósticos o sabiam como indica o nome deles, porém não souberam guardar silêncio. Quiseram vulgarizar a gnose; resultaram daí doutrinas ridículas que a Igreja teve razão de condenar. Porém, com eles infelizmente foi condenada a porta do santuário oculto e lançaram suas chaves no abismo.

É aí que os Joanitas e os Templários ousaram ir buscá-las com risco da danação eterna. Mereceriam eles, por isso, serem condenados no outro mundo? Tudo o que sabemos é que, neste mundo, os Templários foram queimados.
A doutrina secreta de Jesus era esta:

Deus tinha sido considerado como um senhor e o príncipe deste mundo era o mal; eu, que sou o filho de Deus, vos digo: não procuremos Deus no espaço; ele está nas nossas consciências e nos nossos corações. Meu pai e eu somos um e quero que vós e eu sejamos um. Amemo-nos uns aos outros como irmãos. Não tenhamos mais que um coração e uma alma. A lei religiosa é feita para o homem, e o homem não é feito para a lei. As prescrições legais estão submetidas ao livre arbítrio da nossa razão unida à fé. Crede no bem e o mal nada poderá sobre vós.

Quando vos reunirdes em meu nome, meu espírito estará no meio de vós. Ninguém dentre vós deve julgar-se mestre dos outros, porém todos devem respeitar a decisão da assembléia. Todo homem deve ser julgado conforme as suas obras e medido conforme a medida que fez para si. A consciência de cada homem constitui sua fé e a é do homem é o poder de Deus nele.

Se sois senhor de vós mesmo, a natureza vos obedecerá e governareis os outros. A fé dos justos é mais inabalável que as portas do inferno e sua esperança jamais será confundida.

Eu sou vós e vós sois eu, no espírito de caridade que é o nosso e que é Deus. Crede isto e vosso verbo será criador. Crede isto e fareis milagres. O mundo vos perseguirá e fareis a conquista do mundo.

As velhas sociedades fundadas sobre a mentira perecerão; um dia, o filho do homem pairará sobre as nuvens do céu, que são as trevas da idolatria, e fará um juízo definitivo sobre os vivos e os mortos.

Desejai a luz, pois ela se fará. Aspirai à justiça, pois o assassinato provoca o assassinato. É pela paciência e a brandura que vos tornareis senhor de vós mesmos e do mundo.

Entregai agora esta doutrina admirável aos comentários dos sofistas da decadência e polemistas da Idade Média, e daí vereis sair belas coisas. Se Jesus era filho de Deus, como o engendrou Deus? É ele da mesma substância de Deus ou de outra substância? A substância de Deus! Que eterno assunto de disputa para a ignorância presunçosa! Era ele uma pessoa divina ou uma pessoa humana? Tinha ele duas naturezas e duas vontades? Terríveis questões que merecem que as pessoas se excomunguem e se degolem! Jesus tinha uma só natureza e duas vontades, dizem uns; porém, não os escuteis, são hereges; então, duas naturezas e uma vontade? Não, duas vontades. Então, estava em oposição consigo mesmo? Não, porque estas duas vontades faziam uma só que se chama Teandrica. Oh! Oh, diante desta palavra não digamos mais nada e, outrossim, é preciso obedecer à Igreja que se tornou muito diferente da primitiva assembléia dos fiéis. A lei é feita para o homem, disse Jesus, porém o homem é feito para a Igreja, diz a Igreja, e é ela que impõe a lei. Deus sancionará todos os decretos da Igreja e condenará a todos vós, se ela decidir que sois todos ou quase todos condenados. Jesus diz que é preciso referir-se à assembléia, portanto, ela é infalível, é Deus, e se ela decide que dois e dois são cinco, dois e dois serão cinco.

Se ela diz que a terá é imóvel e que o sol gira, é proibido à Terra de girar. Ela vos dirá que Deus salva seus eleitos dando-lhes a graça eficaz e que os outros serão condenados por terem recebido somente graças suficientes, as quais, por causa do pecado original, bastavam em principio, porém não eram suficientes em fato. Que o papa salva e condena a quem quer, pois tem as chaves do céu e do inferno. Depois vêm os casuístas com seus molhos de chaves que não abrem, mas fecham com duas ou três voltas as portas dos compartimentos feitos na torre de Babel. Ó Rabelais, meu mestre! Só tu podes trazer a panacéia que convém a toda demência. Uma grande gargalhada! Dize-nos, enfim, a ultima palavra de tudo isso, e ensina-nos definitivamente se uma quimera que arrebenta fazendo ruído no vácuo pode se encher de novo e adquirir bandulho absorvendo a substância quiditativa e merífica das nossas segundas intenções?

Utrum chimera in vacuum bombinans possit concidere secundum intentiones. Outros tolos, outros comentários. Eis que vêm os adversários da Igreja a nos dizer: Deus está no homem, isto quer dizer que não há outro Deus senão a inteligência humana. Se o homem está acima da lei religiosa e esta lei embaraça o homem, porque não suprimiria ele a lei? Se Deus é nós e se nós somos todos irmãos, se ninguém tem o direito de chamar-se nosso senhor, por que obedecemos nós? A fé e a razão dos imbecis. Não acreditemos em nada e não nos submetamos a ninguém.

Pois seja! Isto é altivez. Porém, será necessário baterem-se uns contra os outros. Eis a guerra dos deuses e a exterminação dos homens! Ora! Miséria e tolice!... mais ainda, mais ainda, tolice, tolice e miséria!

“Pai, perdoa-lhes”, dizia Jesus, “porque não sabem o que fazem.”. Pessoas de bom senso, quem quer que sejais, acrescentarei eu, não os escuteis, porque não sabem o que dizem.

Mas então são inocentes, vai gritar um terrível menino. Silêncio, imprudente. Silêncio, em nome do céu, ou toda moral está perdida! Aliás vós vos enganais. Se fossem inocentes, seria permitido fazer como eles e quereríeis vós imitá-los? Crer tudo é uma tolice; a tolice não pode, pois, ser inocente. Se há circunstancias atenuantes, só a Deus pertence apreciá-las.

A nossa espécie é evidentemente defeituosa e, ao ouvir falar e ver agir a maioria dos homens,me parece que não têm bastante razão para serem seriamente responsáveis. Ouvi falar na Câmara dos homens que a França (o primeiro país do mundo) honrará com a sua confiança. Eis aqui o orador da oposição. Eis o campeão do ministério. Cada qual prova vitoriosamente que o outro nada entende dos negócios do Estado. A prova que B é um idiota, B prova que A é um saltimbanco. A quem dar crédito? Se fordes branco, acreditareis em A; se fordes vermelho, acreditareis em B. Porém, a verdade, meu Deus! A verdade! – A verdade é que A e B são charlatões e mentirosos.
Desde que existiu uma dúvida entre eles, provaram que um e outro nada valiam. Admiro a prova e admiro a ambos nesta demolição mútua. Encontra-se tudo nos livros, exceto o que ordinariamente o autor quis pôr neles. Riem-se da religião como uma impostura e mandam-se as crianças à igreja. Ostenta-se cinismo e tem-se superstição. O que se teme acima de tudo é o bom senso, é a verdade, é a razão.

A vaidade pueril e o sórdido interesse levam os homens pelo nariz, até a morte, este esquecimento definitivo e motejador supremo. O fundo da maior parte das almas é a vaidade. Ora, que é a vaidade? É o vácuo. Multiplicai os zeros quantas vezes quiserdes, sempre valerão zero; amontoai nadas e a nada chegareis, nada, nada. Nada, eis aí o programa da maioria dos homens!
E estes são os imortais! E estas almas, tão ridiculamente enganadoras e enganadas são imperecíveis! Para todos estes estouvados, a vida é uma armadilha suprema que encobre o inferno! Oh! Há certamente aqui um segredo terrível: é o da responsabilidade. O pai responde por seus filhos, o senhor pelos seus sevos e o homem inteligente pela multidão ignorante. A redenção se realiza por todos os homens superiores, a tolice sofre, porém só o espírito expia.

A dor do verme que é esmagado e da ostra que é despedaçada não são expiações.

Sabe, pois, ó tu que queres ser iniciado nos grandes mistérios, que fazes um pacto com a dor e afrontas o inferno! O abutre, o Prometeida, te olha, e as Fúrias dirigidas por Mercúrio preparam cunhas de madeiras e cravos. Vais ser sagrado, isto é, consagrado ao suplício. A humanidade tem necessidade dos teus tormentos.

O Cristo morreu jovem numa cruz e todos aqueles a quem iniciou foram mártires. Apolônio de Tiana morreu pelas torturas que sofreu nas prisões de Roma. Paracelso e Agripa levaram uma vida errante e morreram miseravelmente. Guilherme Postello morreu preso. São Germano e Cagliostro tiveram um fim misterioso e provavelmente trágico. Cedo ou tarde é preciso satisfazer ao pacto quer formal, quer tácito. É preciso libertar-se do imposto que a natureza estabeleceu sobre os milagres. É preciso ter uma luta final com o diabo, desde que se tomou a liberdade de ser Deus.

Eritis sicut dii scientes bonum et malum.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Caos & kundalini



A existência é energia, o movimento da energia em tantas maneiras e de tantas formas. No que se refere à existência humana, esta energia é energia Kundalini. Kundalini é a energia focalizada no corpo humano e na psiquê humana. Kundalini significa seu potencial total, sua total possibilidade.

Assim, primeiro de tudo, Kundalini não é uma coisa singular. É apenas a energia humana como tal. Mas comumente apenas uma parte dela está funcionando, somente uma parte muito diminuta. E mesmo esta parte não funciona harmonicamente; está em conflito. Isto é a miséria, a angústia. Se sua energia pode funcionar harmonicamente, então você sente prazer, mas se está em conflito ---- se é antagônica a si mesma ---- então você se sente miserável. E toda miséria significa que sua energia está em conflito e toda felicidade, todo deleite, significa que sua energia está em harmonia.

Para usar termos psicológicos, o inconsciente está sempre em conflito com o consciente. O consciente tentará dominá-lo, porque está sempre em perigo do inconsciente manifestar-se a si mesmo. O consciente está sob controle e o potencial, o inconsciente, não está.
Você pode manipular o consciente, mas com uma explosão do inconsciente você estará na insegurança. Você não será capaz de manejá-la. Este é o medo do consciente. Assim, este é outro conflito maior e mais profundo do que o primeiro: o conflito entre o consciente e o inconsciente,
entre a energia que se tornou manifestada e a enegia que quer se manifestar, a batalha entre a Ordem e o Caos.

O estado ordinário dos seres humanos é anti-Kundalini. A energia move-se do centro para a periferia, por que esta é a direção para a qual você está se movendo. Kundalini significa exatamente o oposto.

Forças, energias, movem-se da periferia ao centro. Kundalini significa a mudança desta situação absurda em direção a uma que tenha significado.

A ciência Kundalini é uma das mais sutis. As ciências físicas estão preocupadas também com as energias, mas com energias materiais, não a psíquica. O Yoga está preocupado também com a energia psíquica. É uma ciência do metafísico, daquilo que é transcendental.
Assim como a energia material, com a qual a ciência está preocupada, esta energia psíquica pode ser criativa ou destrutiva. Se não é usada, torna-se destrutiva; se é usada pode se tornar criativa.

Mas pode ser usada não criativamente. A maneira de torná-la criativa é primeiro entender que você não deveria realizar apenas parte de seu potencial. Se uma parte está realizada e a remanescente, a maior parte de seu potencial, está irrealizada, é uma situação que não pode ser
criativa.

O Todo deve ser realizado. Há métodos para realizar o potencial, para fazê-lo completo, para fazê-lo desperto. Ele está dormindo, exatamente como uma cobra, eis porque tem sido denominado de Kundalini: o poder da serpente, uma serpente adormecida. Se você já viu uma serpente dormindo, é exatamente como isso. Ela está enrolada; não há movimento de forma alguma. Mas uma serpente pode levantar-se perfeitamente sobre a cauda. Levanta-se por sua própria energia. Eis porque a serpente tem sido usada simbólicamente. Sua energia de vida também está enrolada e adormecida. Mas ela pode tornar-se ereta; pode tornar-se desperta, com seu potencial completo. Então você será transformado.

Vida e morte são apenas dois estados de energia. Vida significa energia funcionando e morte significa energia não funcionando. Vida significa energia desperta; morte significa energia que novamente ao sono. Assim de acordo com a Kundalini Yoga, você está, comumente, apenas parcialmente vivo. A parte da sua energia que se torna atualizada é a sua vida. A parte remanescente está tão adormecida com se não existisse.

Mas ela pode ser desperta. Há tantos caminhos para atingir este supremo. O indivíduo pode ou não falar de Kundalini; é imaterial. Kundalini é apenas uma palavra. Você pode usar outra palavra. Kundalini é a fonte original de a vida, mas você está seccionado dela de tantas formas. Então você converte-se num forasteiro de si mesmo e não sabe como retornar para casa. Este retorno é a ciência do Yoga. No que se refere à transformação humana, Kundalini Yoga é a ciência mais sutil.

Na era atual, os métodos para despertar a Kundalini diferem em muito dos métodos tradicionais; porque as pessoas dos tempos primitivos para as quais foram desenvolvidos eram diferentes. O homem moderno é um fenômeno muito novo. Nenhum método tradicional pode ser exatamente utilizado como existe, porque o homem moderno nunca existiu antes. De uma certa forma, pois, todos os métodos tradicionais tornaram-se irrelevantes. Por exemplo, o corpo mudou tanto. Não é tão natural agora como era nos tempos em que Patanjali desenvolveu seu sistema de Yoga. É absolutamente diferente. Está tão drogado, que nenhum método tradicional pode ser útil. No passado, não se permitia dar remédio aos Hatha Yogues, porque as alterações químicas não apenas apenas tornariam os métodos difíceis, como nocivos. Mas toda a atmosfera é artificial agora: o ar, a água, a sociedade, as condições de vida.Nada é natural. Você nasce na artificialidade; você se desenvolve nela. Os métodos tradicionais, pois, provar-se-ão nocivos, hoje. Eles terão de ser mudados, de acordo com a situação moderna. Outra coisa: a qualidade da mente mudou de maneira fundamental. Nos dias de Patanjali, o centro da personalidade humana não era o cérebro; era o coração. E antes disso, não era nem mesmo o coração. Era ainda mais embaixo, próximo ao umbigo. A Hatha Yoga desenvolveu métodos que foram úteis, significativos, para a pessoa cujo centro da personalidade era o umbigo. Então, o centro tornou-se o o coração.
Somente então a Bhakti Yoga pôde ser utilizada.

A Bhakti Yoga desenvolveu-se nas eras medievais, porque é quando centro da personalidade mudou do umbigo para o coração. Um método tem de mudar de acordo com a pessoa a quem se aplica. Agora, nem mesmo a Bhakti Yoga é relevante. O centro mudou do coração para o cérebro. Eis porque ensinamentos tais como os de Krishnamurti atraem. Nenhum método é necessário, nehuma técnica é necessária ---- apenas o entendimento. Mas se é apenas um entendimento verbal, apenas intelectual, nada muda, nada é transformado. Torna-se, então, um acúmulo desnecessário de conhecimento. Hoje é preferível usar os métodos do Caos em vez dos tradicionais; porque um método caótico é muito útil para empurrar o centro do cérebro para baixo. O centro não pode ser empurrado para baixo através de nenhum método sistemático, porque sistematização é o trabalho do cérebro. Mediante um método sistemático, o cérebro será reforçado; mais energia será acrescida a ele.
Através de métodos caóticos, o cérebro é anulado. Ele não tem nada para fazer. O método é tão caótico que o centro é automaticamente empurrado do cérebro para o coração. Se você praticar o método assistematicamente, caóticamente, seu centro move-se para o coração. Então há uma catarse. Uma catarse é necessária, porque seu coração está tão reprimido, devido ao cérebro. Seu cérebro apoderou-se tanto do seu ser, que o domina.

Primeiramente, pois, um método caótico é necessário para empurrar o centro da consciência do cérebro em direção ao coração. Então a catarse é necessária para descarregar o coração, para jogar fora as repressões, para tornar o coração aberto. Se o coração torna-se leve e descarregado, então centro da consciência é empurrado para mais baixo ainda;chega ao umbigo. O umbigo é a fonte da vitalidade, a fonte semente da qual tudo o mais vem: o corpo e a mente. A consciência deve ser empurrada para baixo à fonte, às raízes. Somente então há a possibilidade de transformação. Assim, deve-se usar os métodos caóticos para empurrar a consciência para baixo, desde o cérebro. Sempre que você está no Caos, o cérebro para de trabalhar. Os métodos caóticos são necessários para empurrar a consciência para as suas raízes, porque somente das raízes a transformação é possível.

Caso contrário, você continuará a verbalizar e não haverá transformação. Não é o suficiente apenas saber o que é certo. Você tem de transformar as raízes; de outra forma, você não mudará.

O Supremo não pode ser conhecido pelo cérebro, porque quando você está funcionando pelo cérebro, você está em conflito com as raízes das quais você veio. Você veio do umbigo e você morrerá por ele. O indivíduo tem de retornar as raízes. Mas retornar é difícil, árduo.
Kundalini Yoga concerne à energia da vida e a seu fluxo interno.
Concerne as técnicas para trazer o corpo e a mente a um ponto onde a transcendência é possível.
Então, tudo é mudado. O corpo torna-se diferente; a mente torna-se diferente; o viver torna-se diferente. É simplemente vida.

Os métodos tradicionais ainda atraem muitas pessoas porque são muito antigos e tantas pessoas alcançaram através deles no passado.

Eles podem ter se tornado irrelevantes para nós, mas não eram irrelevantes para Buda, Mahavira, Patanjali ou Krishna. Eles eram significativos, úteis. Os velhos métodos podem ser insignificantes agora, mas porque Buda alcançou através deles, eles atraem. Os tradicionalistas sentem: "Se Buda alcançou atarvés destes métodos, porque não eu?". Mas agora nós estamos numa situação totalmente diferente. Toda a atmosfera, toda a pensamentosfera mudou. Todo método é orgânico para uma situação particular, para uma mente particular, para um homem particular.

O moderno mudou tanto, é tão diferente do homem primitivo, que precisa de novos métodos, novas técnicas. Os métodos caóticos auxiliarão a mente moderna porque a mente moderna é, ela própria, caótica. Este caos, esta rebeldia do homem moderno, é de afto, uma rebelião de outras coisas: do corpo contra a mente e suas repressões.

Se falar-mos em termos yóguicos, podemos dizer que é a rebelião do centro do coração e do centro do umbigo contra o cérebro. Por causa da rebeldia da mente moderna, ela está propensa a ser branda em relação aos métodos soltos e caóticos.
A Meditação Caótica ajudará a mover o centro da consciência para longe do cérebro. Então a pessoa que a usa nunca será rebelde, porque a causa da rebeldia é satisfeita. Ela estará tranquila.
Assim, meditar no vácuo, mergulhar no Caos; não é apenas a salvação do indivíduo ou a sua transformação; pode também prover o preparo de terreno para a transformação de toda a sociedade, do ser humano por completo. A verdade é que, ou evoluímos para um nível mais alto de consciência ou regredimos. A escolha é nossa. Nós não podemos não-escolher. Pois até mesmo o não-escolher é uma sutil escolha.

Bhagwan Shree Rajneesh [Osho].

sábado, 7 de agosto de 2010

Uma Imagem Divina




A Crueldade tem Humano Coração,
E tem a Intolerância Humano Rosto;
O Terror a Divina Humana Forma,
O Secretismo Humano Traje posto.

O Humano Traje é Ferro forjado,
A Humana Forma, Forja incendiada,
O Humano Rosto, Fornalha bem selada,
Humano Coração, Abismo seu Esfaimado.

William Blake, in "Canções da Experiência"

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Ave Adonai


PÁLIDO como a noite que empalidece
No pavilhão de pérola-pura da aurora,
Eu espero por ti, com meu peito de pombo
Estremecendo, um deus seu convidado cruel ---


Eu não pintei as minhas unhas de dourado
E meus lábios de cinabre?


Eu não estou totalmente despido
Das ações e pensamentos que te obscurecem?
Eu espero por ti, minha alma perturbada


Com dor por algum nada desconhecido
Em sua cripta mais arcana ---
Eu não estou apto a suportar-te?


Cingido ao redor dos mamilos
Com um cinto dourado de glória,
Tu esperas por mim, teu escravo que sou,


Como um lobo espreita por um cordeiro branco perdido?
A corrente das estrelas rompe,
E o profundo da noite está esbranquiçado!


Tu cuja boca é uma chama
Com sua espada de sete gumes prosseguindo,


Vinde! Eu estou me contorcendo com desespero
Como uma serpente pêga em uma armadilha,
Gemendo o nome místico
Até que a minha língua esteja rasgada e sangrando!


Eu não pintei as minhas unhas de dourado
E meus lábios de cinabre?


Sim! tu és eu; a ação desperta:
Teu raio cai, teu trovão rompe
Feroz como a noiva que se lamenta
No pavilhão emplumado do noivo!


ALEISTER CROWLEY

terça-feira, 22 de junho de 2010



Versos Esmeraldinos

"É verdade, correto e sem falsidade, que o que está em baixo, é como é em cima, para cumprir-se a Grande Obra. Como todas as coisas derivam-se da Coisa Única, pela vontade e pela palavra daquele Único que as mentalizou, assim também tudo deve a sua existência a esta Unidade, pela ordem Natural, e tudo pode ser aperfeiçoado por adaptação àquela Mente.
Seu pai é o Sol; sua mãe a Lua, o Vento a transporta em seu ventre, sua nutriz é a Terra. Este ente é o pai de todas as coisas do Mundo. Seu poder é imenso e perfeito, quando novamente separada da Terra. Separas pois o Fogo da Terra, o sutil do denso, mas com cuidado, com grande habilidade e critério.
Ela sobe da Terra ao Céu e novamente desce à Terra, renascendo e assim tomando para sí o poder de Cima e o poder de Baixo. Desta forma o explendor do mundo será todo teu, possuirás todas as glórias do universo e quaisquer trevas afastar-se-ão de tí. Nisso consiste o poder poderoso de todo poder; capaz de vencer todo o sutil e penetrar tudo o que é sólido. Do mesmo modo o universo é criado. De lá vem as realizações maravilhosas, e seu mecanismo é o mesmo.
É por isso que sou chamado Hermes Trismegistus, possuindo poder sobre os três aspectos da filosofia universal. O que eu disse da obra-mestra da Arte Alquímica, a Obra Solar, aqui está dito e encerra tudo."

terça-feira, 15 de junho de 2010



Eu sou como uma donzela banhando-se num claro poço de água fresca.
Oh meu Deus! Eu Te vejo escuro e desejável, subindo através da água como uma fumaça dourada.
Tu és todo dourado, o cabelo e o cenho e a face brilhante; mesmo das pontas dos dedos às pontas dos artelhos, Tu és um rosado sonho de ouro.
Fundo em Teus olhos dourados minha alma pula, como um arcanjo ameaçando o sol.
Minha espada Te trespassa e trespassa; luas cristalinas escoam do Teu corpo lindo que está escondido atrás das ovais de Teus olhos.
Mais fundo, sempre mais fundo. Eu caio, mesmo como o Universo inteiro cai no abismo de Anos.
Pois a Eternidade chama; o Sobremundo chama; o mundo do verbo nos espera.
Acaba com a fala, Oh Deus! Crava as presas do cão Eternidade nesta garganta minha!
Eu sou como uma ave ferida esvoaçando em círculos.
Quem sabe onde vou cair?
Oh Abençoado! Oh Deus! Oh meu devorador!
Deixa-me cair, precipitar-me, afastar-me, longe, só!
Deixa-me cair!
Nem há qualquer descanso, Coração Doce, salvo no berço do régio Baco, a coxa do Altíssimo.
Lá, descanso, sob o dossel da noite.
Urano censurou Eros; Marsyas censurou Olympas; eu censuro meu lindo amante com sua cabeleira de raios de sol; não cantarei?
Não trarão meus encantamentos em volta minha a maravilhosa companhia dos deuses silvestres, seus corpos luzindo com o unguento de luar, e mel, e mirra?
Reverentes sois vós, Oh meus amantes; avancemos para a clareira mais sombria!
Lá festejaremos comendo mandrágora e môulo!
Lá o Lindo espalhará para nós Seu santo banquete. Nos bolos castanhos de trigo provaremos a comida do mundo, e seremos fortes.
Na rubra e horrenda taça da morte beberemos o sangue do mundo, e ficaremos ébrios!
Ohé! a canção a Iao, a canção a Iao!
Vem, cantemos para ti, Iaco invisível, Iaco triunfante, Iaco indizível!
Iaco, Oh Iaco, sê perto de nós!
Então a face de todo o tempo foi escurecida, e a verdadeira luz mostrou-se.
Houve também um certo grito numa língua ignota, cuja estridência perturbou as águas quietas de minha alma, de forma que minha mente e meu corpo foram curados de sua doença, auto-conhecimento.
Sim, um anjo perturbou as águas.
Este foi o grito d'Ele: IIIOOShBTh-IO-IIIIAMAMThIBIII
Nem cantei isto mil vezes por noite durante mil noites antes que Tu viesses, Oh meu Deus flamejante, atravessar-me com Tua lança. Teu robe escarlate desdobrou o céu inteiro, de forma que os Deuses disseram: Tudo queima; é o fim.
Também Tu puseste teus lábios na ferida e extraíste um milhão de ovos. E Tua mão sentou-se sobre eles, e vede! estrelas e Coisas ultimais das quais as estrelas são átomos.
Então eu Te percebi, Oh meu Deus, sentado como um gato branco sobre a treliça do porto; e o zunido dos mundos regirando era apenas o Teu prazer.
Oh gato branco, as faíscas voam do Teu pelo! Tu crepitas estalando os mundos.
Eu vi mais de Ti no gato branco do que vi na Visão dos Aeons.
No bote de Ra viajei, mas nunca encontrei sobre o Universo visível qualquer ente como Tu!
Tu foste como um cavalo branco alado, e eu Te fiz correr pela eternidade contra o Senhor dos Deuses.
Pois ainda corremos!
Tu foste como um floco de neve caindo nos bosques de pinheiros.
Num instante Tu sumiste numa agridão do parecido e do diverso.
Mas eu vi o lindo Deus atrás de uma tempestade de neve, e Tu eras Ele!
Também eu li num grande Livro.
Sobre antigo pergaminho estava escrito em letras de ouro: Verbum fit Verbum.
Também Vitriol e o nome do hierofante, V.V.V.V.V.
Tudo isto regirava em fogo, fogo estelar, raro e longínquo e completamente solitário, mesmo como Tu e Eu, Oh alma desolada Deus meu!
Sim, e a escritura, está bem. Esta é a voz que sacudiu a terra.

Oito vezes grito ele alto, e por oito e por oito contarei Teus favores, Oh Tu Deus Undécuplo 418!
Sim, e por muitos mais, pelas dez nas vinte e duas direções; mesmo como a perpendicular da Pirâmide, assim Teus favores serão.
Se eu os conto, eles são Um.
Excelente é Teu amor, Oh Senhor! Tu és revelado pela escuridão, e aquele que tateia no horror dos bosques Te pegará por acaso, mesmo como uma cobra que se apossa de uma avezinha que canta.
Eu Te peguei, Oh meu tordo macio; eu sou como um falcão de esmeralda-mãe;
Eu Te pego por instinto, se bem que meus olhos falham de Tua glória.
No entanto, eles são gente tola ali. Eu os vejo sobre a areia amarela, todos vestidos de púrpura de Tiro.
Eles puxam seu Deus brilhante para a terra em redes; eles preparam um fogo para o Senhor do Fogo, e gritaram palavras profanas, mesmo a pavarosa maldição Amri maratza, maratza, atmam deona lastadza maratza-marán!
Então eles cozinham o deus brilhante, e o engolem inteiro.
Esta é gente ruim, Oh menino lindo! passemos ao Outro Mundo.
Façamo-nos em uma isca agradável, assumamos uma forma sedutora!
Eu serei como uma esplêndida mulher nua com seios de marfim e mamilos dourados; meu corpo inteiro será como leite das estrelas. Eu serei lustrosa e grega, uma cortezã de Delos, a Ilha instável.
Tu serás como um vermezinho rubro num anzol.
Mas Eu e Tu pegaremos nossos peixes da mesma forma.
Então serás Tu um peixe brilhante de costas douradas e barriga prateada; Eu serei como um violento homem bonito, mais forte que quarenta touros, um homem do Oeste carregando um grande saco de jóias preciosas sobre um cajado que é maior que o eixo do todo.
E o peixe será sacrificado à Ti e o homem forte crucificado a Me, e Tu e Eu nos beijaremos, e anularemos o erro do Princípio; sim, o erro do princípio.

segunda-feira, 14 de junho de 2010


Eu fui o sacerdote de Ammon-Ra no templo de Ammon-Ra em Thebai.
Mas Baco veio cantando com suas tropas de moças vestidas de vinha, moças em mantos escuros; e Baco no meio como um veadinho!
Deus! Como eu saí com raiva e espalhei o coro!
Mas em meu templo ficou Baco o sacerdote de Ammon-Ra.
Portanto eu fui em farra com as jovens à Abissínia; e lá moramos e nos divertimos.
Excedentemente; sim, nos divertimos muito!
Eu comerei o fruto maduro ou verde pela glória de Baco.
Terraços de ilex, e arquibancadas de onix e opalas e sardônia elevando-se ao frasco, verde portal de malaquita.
Dentro há uma concha de cristal, na forma de uma ostra. Oh glória de Príapo! Oh beatitude da Grande Deusa!
Ali dentro uma pérola.
Oh Pérola! Tu vieste da majestade do terrível Ammon-Ra.
Então eu, o sacerdote, vi um brilho firme no coração de pérola.
Tão vivo que não podíamos olhar! Mas vede! Uma rosa cor-de-sangue sobre uma cruz de ouro fulgente!
Assim eu adorei o Deus. Baco! tu és o amante de meu Deus!
Eu que fui sacerdote de Ammon-Ra, que vi o Nilo correr por muitas luas, por muitas, muitas luas, sou o veadinho da terra cinza.
16. Eu estabelecerei minha dança em vossos conventículos, e meus amores secretos serão doces entre vós.
Tu terás um amante entre os senhores da terra cinza.
Isto ele te trará, sem o que tudo é em vão: a vida de um homem derramada a ti nos Meus Altares.
Amém.
Que seja cedo, Oh Deus, meu Deus! Eu anseio por Ti, eu perambulo muito só entre a ente louca, na terra cinza de desolação.
Tu ergerás abominável Coisa solitária de maldade. Oh alegria! cimentar aquela pedra fundamental!
Ela estará ereta sobre a alta montanha; somente meu Deus comungará com ela.
Eu a construirei de um rubi único' ela será vista de longe.
Vem irritemos os vasos da terra: eles destilarão vinho estranho.
Cresce aquilo sob minha mão: cobrirá o céu inteiro.
Tu estás atrás de mim: eu grito com alegria louca.
Então disse Ituriel o forte: adoremos nós também esta maravilha invisível!
Isto eles fizeram, e os arcanjos cobriram o céu.
Estranho e místico, como um sacerdote amarelo invocando grandes revoadas de
grandes aves cinzentas do Norte, assim estou de pé e Te invoco!
Que eles não obscureçam o sol com suas asas e seu clamor!
Retira a forma e sua comitiva!
Eu permaneço.
Tu és como uma águia-pescadora num arrozal, eu sou o grande pelicano
vermelho nas águas do poente.
Eu sou como um eunuco negro; e Tu és a cimitarra. Eu decepo a cabeça do claro, do quebrador de pão e sal.
Sim eu decepo, e o sangue faz como que um poente no lapis-lazuli do Quarto de
dormir do Rei.
Eu decepo. O mundo inteiro é quebrado num grande vendaval, e uma voz brada
numa língua que os homens não podem falar.
Eu conheço aquele horrível som de alegria primavera; sigamos nas asas da tormenta até mesmo à casa santa de Hator; afereçamos as cinco jóias da vaca sobre seu altar!
De novo a voz inumana!
Eu ergo minha massa de Titã nos dentes da tormenta, e golpeio e prevaleço, e lanço-me por sobre o mar.
Lá está um estranho Deus pálido, um deus de dor e de extrema maldade.
Minha alma morde-se a si mesma, como um escorpião cercado de fogo.
Aquele pálido Deus de face desviada, aquele Deus de sutileza e riso, aquele jovem Deus dórico, eu o servirei.
Pois o fim daquilo é inenarrável tormento.
Melhor a solidão do grande mar cinza!
Mas ai da gente da terra cinzenta, meu Deus!
Sufoca-los-ei com minhas rosas!
Oh Tu Deus delicioso, sorri sinistro!
Eu te colho, Oh meu Deus, como uma ameixa púrpura da rama ensolarada.
Como Tu desmanchas em minha boca, Tu consagrado açúcar das Estrelas!
O mundo todo é cinza ante os meus olhos: é como um velho, usado odre de vinho.
Todo o vinho dele está nestes lábios.
Tu me engendraste sobre uma Estátua de mármore, Oh meu Deus!
O corpo esta gelado com o frio de um milhão de luas; é mais duro que o adamante eterno. Como chegarei à Luz?
Tu és Ele, Oh Deus! Oh meu querido! Minha criança! Meu brinquedo! Tu és como um grupo de donzelas, como uma multidão de cisnes sobre o lago.
Eu sinto a essência do macio.
Eu sou duro, e forte, e macho; mas venha Tu! Eu serei macio, e fraco, e feminino.
Tu me esmagarás no lagar do Teu amor. Meu sangue Te tingirá os pés de fogo com litanias se Amor em Angústia.
Haverá uma nova flor nos campos, uma nova vindima nos vinhais.
As abelha colherão um mel novo; os poetas cantarão uma nova canção.
Eu ganharei a Dor do Bode como prêmio; e o Deus que senta sobre os ombros do Tempo cochilará.
Então tudo isto que está escrito será feito; sim, será feito.

sábado, 12 de junho de 2010


À minha solidão chega.
O som de uma flauta em bosquetes escuros que crescem nos montes mais distantes.
Mesmo da margem do corajoso rio eles atingem a borda do deserto.
E eu vejo Pã.
As neves são eternas acima, acima.
E o perfume delas sobe às narinas das estrelas.
Mas que tenho eu a ver com estas coisas?
Para mim somente a flauta distante, a duradoura visão de Pã.
Em toda parte Pã para os olhos, para os ouvidos;
O perfume de Pã presente, o gosto dele enchendo-me por completo a boca, de forma que a língua fala um idioma monstruoso e estranho.
O abraço dele intenso em todo centro de prazer e dor.
O sexto sentido interno inflamado com Seu ser mais íntimo;
Meu ser atirado ao precipício da existência.
Até mesmo no abismo, aniquilação.
Um fim para a solidão, como de tudo.
Pã! Pã! Io Pã! Io Pã!

sexta-feira, 11 de junho de 2010


Feliz Só Será

Feliz só será
A alma que amar.

'Star alegre
E triste,
Perder-se a pensar,
Desejar
E recear
Suspensa em penar,
Saltar de prazer,
De aflição morrer —
Feliz só será
A alma que amar.

Johann Wolfgang von Goethe

quarta-feira, 2 de junho de 2010

O Pequeno Príncipe



Antoine de Saint-Exupéry

(...) "E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia - disse a raposa.
- Bom dia - respondeu polidamente o principezinho que se voltou mas não viu nada.
- Eu estou aqui - disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? - perguntou o principezinho.
- Tu és bem bonita.
- Sou uma raposa - disse a raposa.
- Vem brincar comigo - propôs o príncipe

- estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo - disse a raposa. - Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa - disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- O que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui - disse a raposa. - Que procuras?
- Procuro amigos - disse. - Que quer dizer cativar?
- É uma coisa muito esquecida - disse a raposa. - Significa "criar laços"...
- Criar laços?
- Exatamente. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo...
Mas a raposa voltou a sua ideia:
- Minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música. E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento do trigo...
A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe:
- Por favor, cativa-me! - disse ela.
- Bem quisera - disse o príncipe - mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou - disse a raposa. - Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-me!
- Os homens esqueceram a verdade - disse a raposa. - Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."

terça-feira, 18 de maio de 2010



Sabedoria, divino tesouro,
que com teu fogo me queimas,
quando quero chorar não choro,
e se choro, tu me consolas.

Era um velho lenhador da comarca
que não sabia ler nem escrever,
só amava o fio de sua acha
e sentia ânsia de viver.

Regava o sulco com suas lágrimas
e amor sentia pela sabedoria,
sorriam suas faces pálidas
e embriagava−se de amor e poesia.

Sabedoria, sabedoria, sabedoria,
quanto me queimas,
exclamou o ancião que morria
sob as avermelhadas estrelas.

Sabedoria, licor dos deuses,
é licor que envenena
e por um caminho muito duro meu espírito virá,
é terrível, meu Deus, a tortura de esperar.

Sabedoria, por ti levanto minha taça,
estou cansado de chorar,
sabedoria, a ti canto minhas estrofes
e aguardo entre as rosas
o amor que logo voltará.

quarta-feira, 3 de março de 2010

O Cantar dos Cantares



Sinto em minhas entranhas um fogo atormentador;
é o vinho delicioso do amor...
Eu sou a Rosa de Saron
e o lírio dos vales,
Eu Sou o delicioso perfume da paixão.

Eu vivo entre a taça dos poetas aureolados,
Eu Sou o canto das Bacais,
Eu Sou o amor dos céus estrelados,
Eu Sou o cantar dos cantares...

O mel de teus lábios agita minhas entranhas,
e sinto que te amo
és o monte de mirra
e a passagem do incenso...
És o fogo do Arcano
és a erótica colina
e o delicioso sorriso
de amor se tem desnudado...

Agora, alegres do vinho imortal,
acendamos uma fogueira e cantemos às Walquírias
com um canto triunfal
de chamas e poesias.

Venha licor, venha luz e música...
Que dancem os casais sobre o macio tapete,
que a Rosa de Saron brilhe nas taças
e que o fogo devore as sombras..

Venha, alegria, sonho e poesia...
Dancemos felize nos braços do amor,
digam o que disserem
gozemos na deliciosa câmara nupcial,
entre os nardos e as mirras
e cantemos nosso hino triunfal
de luz e poesias...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

ELÊUSIS




Mantéia, Mantéia, Mantéia...
A Música do Templo me embriaga
com este canto delicioso...
e esta dança sagrada.

E dançam as exóticas sacerdotisas
com impetuoso frenesi de fogo
repartindo luz e sorrisos,
naquele rincão do céu.

Mantéia, Mantéia, Mantéia,
e a serpente de fogo,
entre mármores augustos,
és a princesa da púrpura sagrada,
és a Virgem do muros vetustos.

És Hadit, a serpente alada,
esculpida nas velhas calçadas de granito,
como uma Deusa terrível e adorada,
como um gênio de antigos monólitos,
no corpo dos deuses enroscada.

E vi em noites festivas,
Princesas deliciosas em seus leitos,
e a musa do silêncio sorria nos altares
entre os perfumes e as sedas.

Mantéia, Mantéia, Mantéia,
Gritavam as Vestais
Cheias de louco frenesi divino,
e silenciosos as miravam os deuses imortais
sobos pórticos alabastrinos.

Beija−me, amor, beija−me, que te amo...
e um sussurro de palavras deliciosas...
estremeciam o Sagrado Arcano...
entre a música e as rosas
daquele santuário sagrado.

Bailai, exóticas dançarinas de Elêusis
entre o tilintar de vossas campainhas,
Madalenas de uma via−crúcis
Sacerdotisas divinas...

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Pensamentos Nocturnos




Lastimo-vos, ó estrelas infelizes,
Que sois belas e brilhais tão radiosas,
Guiando de bom grado o marinheiro aflito,
Sem recompensa dos deuses ou dos homens:
Pois não amais, nunca conhecestes o amor!
Continuamente horas eternas levam
As vossas rondas pelo vasto céu.
Que viagem levastes já a cabo!,
Enquanto eu, entre os braços da amada,
De vós me esqueço e da meia-noite.

Johann Wolfgang von Goethe