terça-feira, 15 de junho de 2010



Eu sou como uma donzela banhando-se num claro poço de água fresca.
Oh meu Deus! Eu Te vejo escuro e desejável, subindo através da água como uma fumaça dourada.
Tu és todo dourado, o cabelo e o cenho e a face brilhante; mesmo das pontas dos dedos às pontas dos artelhos, Tu és um rosado sonho de ouro.
Fundo em Teus olhos dourados minha alma pula, como um arcanjo ameaçando o sol.
Minha espada Te trespassa e trespassa; luas cristalinas escoam do Teu corpo lindo que está escondido atrás das ovais de Teus olhos.
Mais fundo, sempre mais fundo. Eu caio, mesmo como o Universo inteiro cai no abismo de Anos.
Pois a Eternidade chama; o Sobremundo chama; o mundo do verbo nos espera.
Acaba com a fala, Oh Deus! Crava as presas do cão Eternidade nesta garganta minha!
Eu sou como uma ave ferida esvoaçando em círculos.
Quem sabe onde vou cair?
Oh Abençoado! Oh Deus! Oh meu devorador!
Deixa-me cair, precipitar-me, afastar-me, longe, só!
Deixa-me cair!
Nem há qualquer descanso, Coração Doce, salvo no berço do régio Baco, a coxa do Altíssimo.
Lá, descanso, sob o dossel da noite.
Urano censurou Eros; Marsyas censurou Olympas; eu censuro meu lindo amante com sua cabeleira de raios de sol; não cantarei?
Não trarão meus encantamentos em volta minha a maravilhosa companhia dos deuses silvestres, seus corpos luzindo com o unguento de luar, e mel, e mirra?
Reverentes sois vós, Oh meus amantes; avancemos para a clareira mais sombria!
Lá festejaremos comendo mandrágora e môulo!
Lá o Lindo espalhará para nós Seu santo banquete. Nos bolos castanhos de trigo provaremos a comida do mundo, e seremos fortes.
Na rubra e horrenda taça da morte beberemos o sangue do mundo, e ficaremos ébrios!
Ohé! a canção a Iao, a canção a Iao!
Vem, cantemos para ti, Iaco invisível, Iaco triunfante, Iaco indizível!
Iaco, Oh Iaco, sê perto de nós!
Então a face de todo o tempo foi escurecida, e a verdadeira luz mostrou-se.
Houve também um certo grito numa língua ignota, cuja estridência perturbou as águas quietas de minha alma, de forma que minha mente e meu corpo foram curados de sua doença, auto-conhecimento.
Sim, um anjo perturbou as águas.
Este foi o grito d'Ele: IIIOOShBTh-IO-IIIIAMAMThIBIII
Nem cantei isto mil vezes por noite durante mil noites antes que Tu viesses, Oh meu Deus flamejante, atravessar-me com Tua lança. Teu robe escarlate desdobrou o céu inteiro, de forma que os Deuses disseram: Tudo queima; é o fim.
Também Tu puseste teus lábios na ferida e extraíste um milhão de ovos. E Tua mão sentou-se sobre eles, e vede! estrelas e Coisas ultimais das quais as estrelas são átomos.
Então eu Te percebi, Oh meu Deus, sentado como um gato branco sobre a treliça do porto; e o zunido dos mundos regirando era apenas o Teu prazer.
Oh gato branco, as faíscas voam do Teu pelo! Tu crepitas estalando os mundos.
Eu vi mais de Ti no gato branco do que vi na Visão dos Aeons.
No bote de Ra viajei, mas nunca encontrei sobre o Universo visível qualquer ente como Tu!
Tu foste como um cavalo branco alado, e eu Te fiz correr pela eternidade contra o Senhor dos Deuses.
Pois ainda corremos!
Tu foste como um floco de neve caindo nos bosques de pinheiros.
Num instante Tu sumiste numa agridão do parecido e do diverso.
Mas eu vi o lindo Deus atrás de uma tempestade de neve, e Tu eras Ele!
Também eu li num grande Livro.
Sobre antigo pergaminho estava escrito em letras de ouro: Verbum fit Verbum.
Também Vitriol e o nome do hierofante, V.V.V.V.V.
Tudo isto regirava em fogo, fogo estelar, raro e longínquo e completamente solitário, mesmo como Tu e Eu, Oh alma desolada Deus meu!
Sim, e a escritura, está bem. Esta é a voz que sacudiu a terra.

Oito vezes grito ele alto, e por oito e por oito contarei Teus favores, Oh Tu Deus Undécuplo 418!
Sim, e por muitos mais, pelas dez nas vinte e duas direções; mesmo como a perpendicular da Pirâmide, assim Teus favores serão.
Se eu os conto, eles são Um.
Excelente é Teu amor, Oh Senhor! Tu és revelado pela escuridão, e aquele que tateia no horror dos bosques Te pegará por acaso, mesmo como uma cobra que se apossa de uma avezinha que canta.
Eu Te peguei, Oh meu tordo macio; eu sou como um falcão de esmeralda-mãe;
Eu Te pego por instinto, se bem que meus olhos falham de Tua glória.
No entanto, eles são gente tola ali. Eu os vejo sobre a areia amarela, todos vestidos de púrpura de Tiro.
Eles puxam seu Deus brilhante para a terra em redes; eles preparam um fogo para o Senhor do Fogo, e gritaram palavras profanas, mesmo a pavarosa maldição Amri maratza, maratza, atmam deona lastadza maratza-marán!
Então eles cozinham o deus brilhante, e o engolem inteiro.
Esta é gente ruim, Oh menino lindo! passemos ao Outro Mundo.
Façamo-nos em uma isca agradável, assumamos uma forma sedutora!
Eu serei como uma esplêndida mulher nua com seios de marfim e mamilos dourados; meu corpo inteiro será como leite das estrelas. Eu serei lustrosa e grega, uma cortezã de Delos, a Ilha instável.
Tu serás como um vermezinho rubro num anzol.
Mas Eu e Tu pegaremos nossos peixes da mesma forma.
Então serás Tu um peixe brilhante de costas douradas e barriga prateada; Eu serei como um violento homem bonito, mais forte que quarenta touros, um homem do Oeste carregando um grande saco de jóias preciosas sobre um cajado que é maior que o eixo do todo.
E o peixe será sacrificado à Ti e o homem forte crucificado a Me, e Tu e Eu nos beijaremos, e anularemos o erro do Princípio; sim, o erro do princípio.

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