quarta-feira, 2 de junho de 2010

O Pequeno Príncipe



Antoine de Saint-Exupéry

(...) "E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia - disse a raposa.
- Bom dia - respondeu polidamente o principezinho que se voltou mas não viu nada.
- Eu estou aqui - disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? - perguntou o principezinho.
- Tu és bem bonita.
- Sou uma raposa - disse a raposa.
- Vem brincar comigo - propôs o príncipe

- estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo - disse a raposa. - Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa - disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- O que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui - disse a raposa. - Que procuras?
- Procuro amigos - disse. - Que quer dizer cativar?
- É uma coisa muito esquecida - disse a raposa. - Significa "criar laços"...
- Criar laços?
- Exatamente. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo...
Mas a raposa voltou a sua ideia:
- Minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música. E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento do trigo...
A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe:
- Por favor, cativa-me! - disse ela.
- Bem quisera - disse o príncipe - mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou - disse a raposa. - Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-me!
- Os homens esqueceram a verdade - disse a raposa. - Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."

Um comentário:

  1. Numa noite Ceubesca, discutimos durante os 100 minutos da aula sobre a afirmação da raposa sobre a responsabilidade com o outro.

    A professora gostou do assunto e colocou suas interpretações acerca da tal afirmação.

    Bom, enfim... digo que só uma raposa diria isso.
    Qual rosa teria essa conciência? E que homem envolto em contas pensaria se não em si?

    Tudo se vai. Tudo acaba e a responsabilidade também. E "somente com o coração podemos ver claramente" pois, "o essencial é invisível aos olhos!"

    Não foi à toa que, dentre todos os argumentos levantados, e muitos calorosos para com a responsabilidade eterna para com o ser cativado, eu trouxe a comparação entre o coração de uma fada e o coração de uma raposa.

    A fada, de tão pequena que é, só pode sentir um sentimento de cada vez, tanto que quando a Sininho enraiveceu-se com Peter Pan ele e a Terra do Nunca quase morreram.

    Assim também o é com a raposa, pois ela, por ser arredia, solitária e descrente, sente somente medo e, por tal, espera ser cativada - ser presa, encarcerada, sequestrada - pelo ser que se interessa por ela.

    E quem mais se não um Príncipe, neófito e alforriado, longe de seu reino, daria ouvidos à uma raposa?

    Fora todos esses por menores fantásticos, a humanidade não é capaz de confiar em si mesma. Não há necessidade de cativar a ninguém, pois ninguém pertence a ninguém: a rosa que o nos diga!

    ResponderExcluir